DO RITO E RITUAL À BANALIZAÇÃO COMPORTAMENTAL

 


Para quem, como eu, viveu uma significativa parte da sua vida sem redes sociais, o choque comportamental decorrente de algumas atitudes que ocorrem no mundo virtual, sempre protegido pela distância física,  é grande porque rompe com parâmetros comportamentais pré-estabelecidos aos quais daria o nome de "boas maneiras".
Por outras palavras, se o Conselheiro Acácio nos surge nos dias de hoje como figura enfatuada e ridícula, fruto da criatividade de Eça, perceber-se-á que com as redes sociais, fruto do biombo que são, se vem finando muito das já referidas "boas maneiras" decorrentes da evolução de Ritos e Rituais que se estabeleceram como normativos do comportamento social.
Se, como já escrevi noutra altura, o Rito é o conceito e o Ritual a sua prática, o anonimato das redes sociais tem levado a comportamentos que se me afiguram atentatórios dos mais básicos valores da educação.
Para começar, dou por mim a ter 1.600 amigos no Facebook. Acresce a que raramente pedi amizade, preferindo o termo ligação, e sempre que um desses pedidos era aceite, eu enviava uma mensagem a agradecer, mesmo a amigos que conheço pessoalmente.
Porém tornou-se hábito frequentíssimo que pedir uma amizade não requer de quem a pede, um agradecimento pela aceitação. Toma-se como dado adquirido, quase um dever esse de aceitar, se não fosse a ironia. Mas gostaria de citar o caso do Luís Osório, uma das raras pessoas a quem pedi ligação, e que, ao aprová-la, me agradeceu, antecipando-se-me. 
Não sou a palmatória do mundo, e muito raramente deambulo pelo Facebook. Sou muito gregário, além de ir fazendo outras coisas alternativamente, mas há coisas que acho meu dever cívico chamar a atenção, porque algumas vezes, a falta de educação é mesmo isso, a ignorância, o não saber que não se sabe. 
Do mesmo modo, muito, mas mesmo muito raramento me envolvo em temas políticos ou até desportivo, porque sei das diversas sensibilidades das pessoas que me lêm. Eu não tenho o direito de lhes impôr a minha opção política e acho de muito mau gosto que me venham vender a sua. Não pretendo converter ninguém, e numa discussão acalorada, as pessoas estão mais interessadas em argumentar do que prestar atenção aos argumentos do outro.
Tudo isto espelha a falta de rituais básicos de bom trato entre pessoas que não se conhecem pessoalmente. Note-se que isto não deve ser entendido como dirigido a ninguém em particular. 
Para mim há mais do que a não hostilidade. É preciso urbanidade sem hipocrisia. Esta não serve porque facilmente se descortina.
As redes sociais são o que são, mas se cada um de nós, antes de partilhar algo, tiver a delicadeza de perguntar ao autor se pode partilhar, seria já uma conquista. Também uma saudação sempre que uma ligação é aceite faria todo o sentido. 
Como não tenho 1.600 amigos ou conhecidos, já tomei e continuarei a tomar providências para que o número se reduza, mesmo que não se note. 
E de rituais de boas maneiras, estamos conversados. Desejaria muito, porque não podemos ser uma pessoa na internet e outra na realidade, que aos poucos, pudessemos mudar ainda para melhor, aproximando o real do virtual e não o inverso.

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