AS CURTAS VISTAS

 

Um avião proveniente dos Estados Unidos, chegou hoje ao aeroporto da Portela, renomeado Gago Coutinho, às 05:00 da manhã, o que, para quem viaja, é uma hora normal. Isto é, para (quase) todos os aeroportos é uma hora normal. Mas este avião teve o azar de se dirigir a Lisboa e ter de andar à voltas, imagine-se, porque o aeroporto só abria às 06:00 da matina. Não funciona, vergonhosamente, 24 horas por dia.
Compreende-se, dirão, porque estamos a recuperar da Covid 19. Pois, digo eu, e o que se passa com a reconstrução das casas queimadas em Pedrógão Grande? E para quando o julgamento do Sócrates? Também se devem ao Covid 19? Quantas forças ocultas manobram na sombra? 
Ontem deu um programa na televisão sobre uma Mãe solteira que ganha seiscentos e tal escudos por mês com um filho hiperactivo, uma Russa que ainda beneficiou do visto-gold, e de refugiados ucranianos e outros, que ainda não foram atendidos pela omnipresente burocracia lusa.
Eu levei meses para trocar a minha carta de condução por uma portuguesa. E nas Finanças... Sei o que é burocracia a mais. Felizmente do SNS nada tenho a dizer, pelo contrário, sempre que vou a um exame e vejo quão bem me tratam, desfaço-me em sentidos elogios pela dedicação de assistentes e enfermeiros, bem como a minha fantástica médica de família. Ficam sem jeito, mas eu sei bem o quanto a maioria passa todos os meses para colher a miséria que recebem, por oposição à francesa da TAP (de facto parece que não temos gestores em condições, a maioria gestores de empresas com o liceu incompleto e vistas curtas). Costumo dizer que se fossemos gerir o Sahara, no ano seguinte começávamos a importar areia.
Na estrada e nas ruas é o que se vê: símios Morrisianos conduzindo, incapazes de uma gentileza, prontos para acelerar, não vá chegarem atrasados um segundo. Depois, fora do carro tremem de coragem e falam grosso. E aos encontros o atraso é crónico.
Nós no geral até somos boas pessoas, mansos a armar em machos e fêmeas, mas valha-lhes a consolação. Tudo isto é, afinal, fado.
Longe vão os tempos em que se ousava ver longe, para além do horizonte. Agora fazem-se democráticas greves que não servem para nada senão para tramar a vida ao resto do povo. Mas acreditam alguns militantes que serve para muito, como se os poderes dessem alguma coisa pela ralé. E depois, à maneira da Ucrânia, também adoptámos o mesmo deus, U.E.
Vivemos disso, incapazes de viver de nós, tirando a pequeníssima percentagem dos ricos e dos que fazem desfalques e outras trafulhices.
Temos liberdade para falar, para fazer greves e para continuar a esperar que as coisas se resolvam, e a empobrecer, assistindo aos inenarráveis episódios das manhãs da Praça da Alegria.
E depois somos um país do primeiro mundo... com salários e serviços terceiro-mundistas. 
E quem escreve este texto foi e é incontornavelmente português, antes de tudo o mais. Mas recusa apenas o amanhã.

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