VÁRIAS RAZÕES PARA HOMENAGEAR AS MULHERES


Nasci de uma Mulher que combateu desde cedo o preconceito e a discriminação, iniciando assim o seu trajecto de emancipação que incluiu a guerra sino-japonesa, o arame farpado de um campo de concentração, um regresso à terra Natal com dois filhos crianças. Esse caminho continuou com a coragem de enfrentar, lado a lado com meu Pai, uma sociedade hipócrita que a procurou castigar, destituindo-a dos cargos de ensino que, com custo, mérito e dedicação assumia. Mas minha Mãe sempre foi, graciosamente, impossível de vergar. 

Em 1947 nasceu o “Notícias de Macau” e aqui se revela também jornalista, redactora e escritora. No “seu jornal” todos a reconheciam como igual, admirando-lhe a inteligência, bondade e integridade.


Deolinda, a única jornalista, à direita do Dr. Pedro Lobo e de Hermman Monteiro que discursa

num jantar de Aniversário do Notícias de Macau.


Foi Mulher emancipada num tempo em que a obediência ao homem era um "dever". 

Nasci desta Mulher, no Hospital de S. Rafael, em 1951. Dela guardo recordações dulcíssimas, porquanto as suas palavras eram de uma pedagogia que ainda hoje considero inovadoras. 

Publicou apenas um livro, em Lisboa, de que lhe fizeram posteriormente diversas edições e traduções para outras línguas, a última das quais para Russo. Em 1956, tinha apenas 43 anos, partiu...


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Em 1983 a Helena e eu unimos os nossos destinos. Passados tantos anos, Macau não mudara. Comigo a seu lado, enfrentou a mesma hipocrisia que, quarenta anos antes, minha Mãe sofrera. E com igual força de carácter, também olhou dignamente em frente. Tal como minha Mãe, não se dobrou. 

Ao longo de 40 anos em Macau, minha Mulher tornou-se numa das poucas pessoas a integrar a Comissão que deu origem ao Instituto Cultural de Macau, trabalhando incansavelmente na rectaguarda, avessa à ribalta. 


Nós em funções oficiais num evento organizado por minha Mulher

Em 1985 perde o sogro de que tanto gostava, e torna-se Mãe dedicadíssima e educadora emérita. Como profissional, com o pensamento brilhante que tem, produziu muito trabalho visível a poucos, porque é pessoa mais de bastidores. 

É, ainda hoje, a guardiã dedicada e incansável, das Memórias de meus Pais.

Em 1997 a 1999 enfrentou comigo as angústias da minha potencial perda de nacionalidade nas duras negociações que decorreram nessa altura.



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A Beatriz foi a prenda que ganhei com apenas 23 anos. Cresceu doce e suave, menina do seu Pai. E, não fosse o cabelo tão liso, seria muito o rosto da avó. 



Cursou direito, tornou-se profissional em Lisboa, enfrentou um assalto no banco onde trabalhava. Profissionalmente amadureceu, casou-se e tornou-se também em Mulher trabalhadora e Mãe extremosa de um casalinho de netos que me aquece o coração. Continua a diversificar a sua acção profissional, mantendo sempre os laços de Amor criados desde que nasceu.


A Beatriz, minha filha
 

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Mas tudo isto não termina aqui. Existem coincidências difíceis de explicar.

Meu Pai partiu neste dia 8 de Março, dia Internacional da Mulher, sem chegar a ver o neto que nasceria poucos meses depois, em pleno Verão de 1985. 


Não sei se são tudo coincidências, mas o avô partiu faz hoje 36 anos, e o neto lança hoje o seu disco Four Hands Piano enquanto escrevo. Recomendo o uso Spotify quando estiver disponível.




Assim celebramos em confinamento o Dia Internacional da Mulher, desejando que todas, em todo o Mundo, possam derrubar a canga que lhes colocam os hominídeos, que homens não as exploram, antes lhes têm respeito e afecto.

Há que lutar pela igualdade de género sem esquecer o quão grandes são as Mulheres.

 

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