CRÓNICA EM NOME DA MINHA "IMPERFEIÇÃO"

 


O FUTEBOL CLUBE DO PORTO qualificou-se ontem para os oitavos de final da Champions, batendo a Juventus de Ronaldo e Pirlo. Ao clube da minha cidade adoptiva, e que espero me tenha adoptado, dou os meus Parabéns, porque, não sendo portista, sou, como já disse, português e portuense de afecto e adopção.
Ao falar do FCPorto vem-me à memória uma estória interessante de um passado de quase 25 anos.
Era presidente da Câmara de Macau o Dr. José Luís de Sales Marques, Macaense, que se tinha formado em Economia pela Universidade do Porto, é também casado com uma senhora portuense. Eu era o chefe da cultura do Município de Macau, mais conhecido por Leal Senado, título concedido por D. João IV, por nunca ter baixado a bandeira do reino de Portugal durante a ocupação dos Filipes.
Já não sei porquê nem quando, reunimo-nos no Porto num jantar com o Eng. Paulo Valadas, em casa deste, para se conversar sobre a hipótese da criação do conceito de Entreposto na Casa do Infante, se bem me lembro. 
Sales Marques, inteligente, dialogante e dinâmico, e eu, entusiasmámo-nos com a ideia, mas em Macau ele era "apenas" o Presidente da Câmara, em moldes diferentes dos edis portugueses.
De qualquer forma, com a subtileza que o caracteriza, logrou estabelecer o protocolo de Geminação entre as cidades do Porto e Macau, sendo na altura presidente da Câmara Municipal do Porto o Dr. Fernando Gomes, hoje dirigente do FC Porto. A esse propósito, fui convidado a conceber, em prata, a medalha comemorativa da Geminação, o que fiz com grande prazer, tendo a mesma sido fabricada na cidade do Porto.

Fotografia da frente da Medalha, algo oxidada pelo tempo. 

A medalha representa na sua frente a convergência e fusão de superfícies rochosas, a raíz das cidades, ambas banhadas por rios. No reverso, entre dois territórios rochosos, a frase Fraternitas inter Cives.
Contado este detalhe, recordo que estava eu a embarcar no Porto para Macau, quando dou com a equipa do FC Porto a embarcar no mesmo avião. Mudámos de avião em Frankfurt. 
Eu tinha direito a Executiva, a equipa ia em Económica, mas pude reconhecer alguns nomes mais conhecidos para mim que vivia então a oito fusos horários de Portugal.
Chegados a Hong Kong, lá embarcamos todos para Macau numa última etapa de uma hora. À chegada desta exaustiva viagem, e em contacto com o Dr. Sales Marques, este pede-me que no dia seguinte, acompanhado do meu jet-lag e tudo, compareça no jantar do Hotel Mandarim Oriental da altura, que ostentava uma belíssima réplica da janela do Convento de Tomar, executada magistralmente em madeira de cerejeira pela Fundação Espírito Santo.
À chegada, e depois de cumprimentar o Dr. Fernando Gomes, o Presidente Pinto da Costa e alguns outros visitantes de que não me recordo, Sales Marques chama-me de parte e pede-me que vá dar uma palavra aos jogadores que, mais além, já jantavam em mesas redondas de 12 pessoas. Aproximei-me dei-lhes as boas noites dizendo "sejam bem-vindos. Eu não sou do Porto (cidade)" e prontamente, sem levantar a cabeça do prato, responde-me o "bicho", Jorge Costa: "Ninguém é perfeito", ao que sorri com as frases feitas do futebolês. Cumprindo o meu dever de anfitrião, continuei: 
"Pois em nome dessa imperfeição, eu vim aqui dizer que sou de Macau e não da cidade do Porto e que, como tal, desejo-vos as boas-vindas e um bom jantar".
O capitão Jorge Costa, continuando a comer, arrancou lá do fundo um enfastiado "obrigado".
Afastei-me a pensar que de facto aqueles e outros como eles eram mais de jogar e menos de conversas formais. 
Entretanto o tempo passou, e há bem poucos anos, renasceu a formalidade de se aprofundarem as relações entre Macau e o Porto, como se pode ler aqui. Não soube que frutos deram nem a geminação nem o aprofundamento das relações. 
Por esta pequena estória se perceberá a razão do título desta crónica.  

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